top of page
Buscar
Foto do escritorPolitica de Botequim

Eleições de 2016: surpresas?

Por Daniel Soares


Não é a vitória dos conservadores o que surpreende nas eleições municipais de 2016.



Que a maioria da população é conservadora, já se sabe; que isto é um fenômeno mundial, também; mais ainda que isto é inerente à humanidade. Desta forma, não é a vitória dos conservadores o que surpreende nas eleições municipais de 2016.

O que realmente surpreende é a incapacidade da esquerda brasileira para apresentar um novo projeto.

Também não é surpreendente o altíssimo percentual atingido pela soma de abstenções, votos brancos e votos nulos. Este fenômeno já pôde ser percebido, ainda que de forma não tão expressiva, nas eleições de 2014, e deve ser creditado a desilusão e desesperança da população brasileira – principalmente a mais jovem – no processo eleitoral como mecanismo para o atendimento das demandas da população.


Um processo político-partidário viciado e corrupto, permissivo ao financiamento de campanhas por empresas (não, a mudança na legislação não impediu este financiamento, que se valeu do “caixa dois”) – com o problema adicional da falta de fiscalização ao aporte criminoso de valores não contabilizados nas campanhas, valores estes que em muitos casos têm suas origens no tráfico de armas, nas milícias, no tráfico de drogas e no desvio de dinheiro de seitas religiosas, quando não na própria corrupção instaurada em todas as esferas administrativas do estado – impede a renovação no executivo e no legislativo, causando este desalento em grande parte do eleitorado.


Tão pouco surpreende o final de um projeto de centro-esquerda aglutinado em volta do Partido dos Trabalhadores. Em que pesem avanços sociais inegáveis, como o Bolsa Família, a democratização do acesso ao ensino superior, a regulamentação da internet e o programa Minha Casa Minha Vida (com todas as críticas possíveis a este último: a concentração em poucas construtoras, o desvio de finalidade ao atender a classe média antes de resolver o problema de moradia para populações de baixa renda, os juros altíssimos sobre garantias reais, o uso de técnicas construtivas ultrapassadas, etc.), o projeto desenvolvimentista formado pela associação entre o estado e as oligarquias deixou de lado propostas que eram lapidares às bases da esquerda que elegeram Lula em 2002: a reforma política, a reforma tributária, uma reforma democratizante dos meios de comunicação, a preservação do meio ambiente e o compromisso com a ética na administração pública, entre outros.


Com isto, parte da esquerda optou por isolar-se deste projeto; não à toa, lideranças históricas do Partido dos Trabalhadores deixaram o partido ainda durante os mandatos de Lula, ainda que não deixassem de dar apoio a iniciativas governamentais que fossem ao encontro dos interesses da população.


Menos ainda surpreende o fracasso da polarização da esquerda, estratégia que historicamente mais serve a grupos radicais de direita. Ao aceitar o jogo do "nós contra eles" – ou promovê-lo – o Partido dos Trabalhadores conseguiu acirrar a rejeição aos projetos da esquerda, e não apenas aos seus.


O que realmente surpreende é a incapacidade da esquerda brasileira para apresentar um novo projeto que possa transpôr o hiato existente entre um imaginário que remonta à época da revolução soviética e as novas urgências de uma sociedade que apresenta demandas impossíveis de serem atendidas por um projeto desenvolvimentista.


Daniel Soares entrou de gaiato no navio, só porque sabia montar sites no Wix.

2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page