Por Paulo de Tarso.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada[1]
Mas é preciso de ação de denúncia contra estes pastores que pregam ódio as religiões de raiz africana, tão legitimas quanto qualquer outra (ou mais legitimas ainda poder-se-ia dizer, uma vez que são originais).
Deve ser incomum, um ateu pedir isto, mas o que estamos vendo pelo Brasil a fora, especialmente na Bahia e Rio de Janeiro, é a tentativa de apagamento de uma religião que é própria dos negros e cuja riqueza cultural vale a pena ser preservada.
Temos lido em vários jornais sobre a destruição de terreiros e a proibição das atividades do candomblé nas comunidades destes estados, e que tendem a se espalhar de forma trágica pelo resto do Brasil.
E quando um estupido e sua Troika[2] de idiotas (mais uma quarta besta, o astrólogo da Virginia) fica no comando da nação, fica difícil ver uma solução no horizonte.
A associação de algumas vertentes neopentecostais com o crime, sobretudo no Rio de Janeiro, está gerando uma forma de ação criminosa “narcoreligiosa”. Ainda que nem todas estejam envolvidas, são estas religiões que entraram nas cadeias e prestaram e prestam um serviço que o estado não é capaz de oferecer.
Como costuma acontecer em reunião de objetivos tão dispares, não deu e não dará certo. A associação de terroristas e bandidos comuns acabou por gerar facções criminosas que dominam o tráfico e jogos ilegais pelo Brasil inteiro. É um problema não só policial, mas vem se tornando um problema de estado. E quando um estupido e sua Troika[2] de idiotas (mais uma quarta besta, o astrólogo da Virginia) fica no comando da nação, fica difícil ver uma solução no horizonte.
Mas é preciso de ação de denúncia contra estes pastores que pregam ódio as religiões de raiz africana, tão legitimas quanto qualquer outra (ou mais legitimas ainda poder-se-ia dizer, uma vez que são originais).
Algumas destas como O Reino de Deus, que construiu o Novo Templo de Salomão em São Paulo, ainda que não tenha até aqui ligação, ao menos notável, com narcotraficantes, investe de maneira agressiva contra as matrizes africanas, como se sua religião não fosse um amalgama de crenças judaicas, ajustadas pelo catolicismo e que agora busca se tornar um povo escolhido. E não é! O único povo que deus escolheu foram os judeus. Pode parecer algo paradoxal, mas foi assim que o judaísmo se constituiu e se manteve e se mantem unido. É o povo que deus escolheu para si. Nenhum outro funciona assim. Os católicos escolheram Cristo, o islã escolheu Alah. Mas os escolhidos são um só.
Há um fluxo de pessoas de vertentes neopentecostais que vão a Israel, e não por outra razão, querendo também se tornarem os escolhidos. Não serão!
Por uma razão cultural e humanitária o estado deveria proteger a liberdade de culto, e por mais razões ainda, proteger uma religião que deu esperança e conforto a negros trazidos de seus países de origem para gerar riquezas e cuja retribuição deste pais a estes verdadeiros heróis construtores de parte significativa e relevante da história brasileira foi e é o desprezo e bala!
É preciso salvar os orixás, babalaôs e outras riquezas desta religião. É preciso proteger seu legado cultural e humanístico. É isto que fara de nós um pouco mais humanos!
Paulo de Tarso é ateu.
[1] Eduardo Alves da Costa, Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século', organizado por José Nêumanne Pinto, pag. 218. Nota: Niterói, RJ, 1936. A autoria do poema tem vindo a ser erroneamente atribuída a Vladimir Maiakóvski. O poeta Eduardo Alves da Costa garantiu que Maiakóvski nada tem a ver com o poema, na Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003. https://www.pensador.com/frase/NjI0MTE/
[2] ройка; transl.: troĭka, "carro conduzido por três cavalos alinhados lado a lado"
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